sexta-feira, 19 de setembro de 2008

O gosto da carne

Existiu o fogo em você - ainda que um princípio - ou só a indiferença (intermitente?) que eu vesti de fraude (é que a imagem dela vestida era tão reconfortante!)?
Eu pareço irregular agora.
E no meu desnorteio eu fui um menino de olhos fundos e sorriso triste - eu não sabia sorrir.
Eu não sabia sorrir e estou inconsolável.
Eu estou perdido querida, mas é só um pedaço. É que estou próximo ao ponto em que não duvidarei mais de mim e tenho medo.
Eu tenho medo dos fragmentos de um amor (in)acabado: eu me canso tão fácil.
Eu bebi você e o seu gosto era amargo. Eu provei da sua carne e o seu gosto era suor.
É mentira: eu não comi e não bebi, eu vomitei porque eu pude sentir o gosto mesmo estando longe e com a boca fechada de agonia e o sabor era forte e impróprio. O gosto já cheirava a inadequado.
A minha insensatez era tsunâmica e o meu desapego o meu único bem.
Entorpecido eu quis de novo o impróprio do sabor em minha língua e procurei-o em outras bocas, outros sexos e era tudo falta.
Era tudo um silêncio ensurdecedor e eu emudeci
(Eu queria um pedaço do teu sossego).
Eu amo o teu pé branco e marcado como com a cruz.
E eu amo a chuva porque ela me dói feito vida latente e irremediável, plena e possível.
Chove e eu senti a presença perturbadora do Senhor.
Dorme amor, porque faz frio e amanhã eu tenho que dizer adeus.
Ilustração: maria joão franco.

4 comentários:

Henrique Monteiro Alive disse...

Vomite.
Até não poder mais.

Mas se alimente antes de dizer adeus.
Nunca sabemos quão longa será a caminhada,
até que vomitemos novamente.

Conde Vlad Drakuléa disse...

Que força em sua composição, eu também amo a chuva e seus pingos nas janelas dos carros...
Grande abraço do conde!

Guto Oliveira disse...

Felipe, vida é assim: sentimentos em carne viva/vida. Bom domingo, amigo.

http://quasepoema.zip.net

CARLA ROCHA disse...

Felipe obrigada pelos comentários. Todos os dias morremos um pouquinho mas por outro lado acabamos por conhecer não só um pouco mais da vida mas também a nós mesmos! Abraço grande!