segunda-feira, 30 de junho de 2008

O beijo

Amou tanto que não pôde permanecer. Teve de ir embora, pelo bem de sua sanidade e da sanidade de outras pessoas. Foi triste e sofrido, devastado pelas emoções; tantas. Foi lembrando do beijo que nunca houve e que talvez nem deveria, do meio abraço, das muitas revelações, soltas a implorar por misericórdia (só um pouco de misericórdia).

Foi lembrando dos pêlos, dos cabelos, da maciez do toque por detrás das folhas de papel (o toque), da voz, do andado, do sorriso que não conhecia a felicidade, da angústia daquele rapaz. Foi lembrando do boneco de biscuit, todo proporcional.

E de lembranças assim construiu uma casa; linda, que morou pra sempre em seu peito e que viu o passado chegar querendo colocar os pingos nos is, aceitando as complicações. Era o tempo que faltava e que veio da maneira como devia e queria. O tempo. Já nem era mais paixão, talvez nunca tenha sido. Era encanto, amor.

E talvez o amor não precisasse de um beijo. Talvez o amor só quisesse possibilidades. Todas elas.

sexta-feira, 27 de junho de 2008

Quando somos eternamente responsáveis pelo que cativamos


Só havia o desespero:
- Alô?
- Não desliga.
- O que você quer?
- Uma chance.
- Mais uma?
- Por que nós não conseguimos conversar?
- Porque já dissemos tudo o que precisávamos.
- Não é verdade.
- Claro. Há coisas que não podem ser ditas, não é?
- Você está sendo imatura.
- E você, covarde.
- Você não quer me deixar.
- Já deixei.
- Mas você não quer.
- Que diferença faz?
- Você é teimosa, caramba!
- Eu? Quem é o rei da resistência? Quanto tempo eu tive de esperar até que você decidisse parar de lutar contra o que sentia? Fui eu quem chorei por anos, quem quis cometer suicídio, quem saiu por aí transando com qualquer um que cruzasse meu caminho, em busca do que você não podia, não queria me dar.
- Ah, por favor, não começa!
- Foi você quem começou.
- Não dá pra conversar com você.
- Você não devia ter ligado.
- Não devia mesmo.
- Definitivamente, não.
- É que eu te amo.
- De que adianta?
- Não basta?
- Não, só amor não basta.
- O que você quer mais de mim? Pelo amor de Deus, me diz, o quê? Eu deixei de lado meu orgulho por você! Eu fiz escolhas perigosas por você. Não basta? Eu sou um homem inseguro agora, dependente de alguém que me perseguiu, que me desestabilizou, que virou o meu chão!
- Por que você está gritando?
- Porque eu não me conformo em amar alguém que se esforça tanto pra ser infeliz, que se vitimiza a todo instante, que precisa culpar todo mundo à sua volta pelas suas neuroses tão inconvenientes e batidas! Você me faz mal!
- É por isso que estou deixando você.
- Porque eu te digo a verdade?
- Porque eu te faço mal.
- E daí?
- Eu não suporto machucar mais alguém.
- O estrago já está feito, continua!
- Não pode ser assim.
- Você me ama?
- Sim.
- Ainda é apaixonada por mim?
- Sim.
- Você sente tesão por mim?
- Sim, sim! Quantas vezes você quer ouvir sim?
- E quando você ama, você deixa?
- Sim.
- Deixa?
- Se você ama de verdade, você deixa.
- Não deixa, não. Eu vou ficar pior sem você.
- Você vai superar.
- Como você sabe? Eu posso não resistir e me atirar na frente de um ônibus. Ou ir para o centro e pular de um prédio. Parar de comer. Fica. Eu vou ficar pior sem você, fica.
- Eu te canso.
- Fica.
- Eu te exponho.
- Fica.
- Eu confundo você.
- Por favor, fica.
- Eu não te compreendo, não te divirto.
- Fica.
- Eu não consigo fazer você feliz.
- Eu não me importo, eu não preciso. Minha história não existe sem você. Fica.
Ilustração: Despair, felipe lima.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

As confissões da Srta. Nina Bar


Foto: felipe lima

Torno-me íntimo de Nina. Ler seus manuscritos faz com que me sinta cúmplice em suas histórias. Como se eu fosse um amigo a quem ela, sem reservas, revela suas aflições:

"Procurei o meu pai em todos os homens com quem me deitei. Foram muitos. Usei desse artifício sempre que me sentia carente ou amedrontada, confusa e também angustiada. E dessa forma consegui ser promíscua o bastante para sentir que era uma vadia, por isso merecia ser infeliz.

Me convenci, posteriormente, de que o motivo da minha infelicidade não eram os traumas deixados pela ausência de meu pai, ou qualquer tragédia em minha infância, ou ainda o meu total desastre no amor, mas a minha auto-estima rastejante, que nunca permitiu que me sentisse digna de afeto".

Triste.

terça-feira, 24 de junho de 2008

05h33min: bigodes e invasões alienígenas

Eles foram para um lugar um tanto distante, cinzento e montanhoso onde havia uma construção inacabada - o esqueleto de uma igreja - e trilhos por onde corria uma locomotiva. Inicialmente o lugar inspirou paz, mas se tornou em seguida em uma imensa sala de aula a céu aberto, escura e fria. Ele saiu rapidamente ressaltando que deveria apresentar um trabalho em outra sala.

Quando pareceu acordar, estava sentado no banco de sua antiga escola com um álbum de fotografias em mãos, onde todos os alunos eram registrados de barba e bigode - inclusive as meninas - no mesmo cenário montanhoso anterior. Outras fotos traziam os estudantes vestidos de sucata, simulando uma invasão alienígena. Fotos belíssimas que segundo escutara, fazia parte de um projeto do professor de Filosofia. Ele lamentou por não poder ter se dedicado ao projeto.

Quando o despertador soou eram 05h33min.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

A recusa do meio-termo

Perdido em minha cama desarrumada, em meio a contas, crediários, revistas, cobertores e um exemplar de Fernando Sabino que tento terminar há mais de um ano, sinto uma angústia sutil que carrega-me para o buraco em mim. Penso que não devo me sentir infeliz e por enquanto, recuso-me a achar um meio-termo; aquele ponto da vida em que não nos sentimos nem felizes nem infelizes. A própria percepção do estado medíocre me entristece e assim prossigo caminhando sempre entre uma e outra coisa. Ou alegre ou triste. Ou bobo, como tenho me percebido com frequência.

Surpreendo-me com o medo da felicidade, de modo que quando rio muito penso sempre que algo muito ruim brevemente irá acontecer, numa conspiração da própria vida para o equilíbrio de nossos sentimentos. Além do medo, me deixa triste o fato de nunca conseguir responder com clareza quando perguntam-me se estou feliz. Ou estou feliz ou estou triste, não consigo encontrar um adjetivo constante para definir meu estado. Sou feliz e sou triste, passarei a responder.

Existem pessoas que são felizes, apesar de tudo e existem as que são infelizes, apesar de tudo. E existem aquelas que como Danuza Leão e Elie Wiesel, vivem num estado permanente de meio-termo: nada do que aconteça a elas poderão fazê-las nem muito felizes, nem fuito infelizes, como a própria Danuza expõe.

E ocorre-me agora, o quanto a tristeza faz com que me sinta vivo. Talvez porque quando nos entristecemos pisamos fundo no chão, lançando-nos à realidade da vida abruptamente. Ficamos mais corajosos. Ou fico, não sei se posso generalizar.

Defendo a tristeza porque creio em sua importância, não devemos relutar. Contudo, amo a felicidade, de modo que a busco apressadamente. Nascemos para buscá-la, mas devemos respeitar a tristeza de modo voluntário. Compreendê-la. A tristeza deve existir, mas peço que vá: que venha e que vá enquanto sou jovem e rejeito a permanência da tristeza, do meio-termo, da felicidade. A permanência da felicidade pode nem ser saudável.

Volto à última crônica do livro de Fernando: ele também vive o meio-termo, "nem alegre e nem triste", diz. Talvez o tempo realmente faça com que chegue uma fase em nossas vidas em que vivendo de tudo, nada nos desperte do meio-termo. Onde não esperaremos muito, onde os sonhos não existam. Só a realidade contundente, que talvez até torne-se bela, como a tristeza ou a felicidade.

Termino o livro e vejo semelhanças demais entre esta e a última crônica de Sabino. Sinto-me compreendido. Um belíssimo livro.

sábado, 21 de junho de 2008

Não entendo

"Entender é a prova do erro".
Clarice Lispector, O Ovo e a Galinha.

As confissões da Srta. Nina Bar

Um trecho das reflexões da Srta. Nina Bar:

"Durante toda a minha vida, por não saber de nada nunca duvidei de nada. Contudo, com o tempo aprendi a desacreditar das verdades absolutas, pois creio que elas não existem. E é assim, desaprendendo a um monte de coisas que descubro-me a cada dia.

Conheço pouco de mim e mostro-me pouco aos que convivem comigo por simples receio da opinião alheia. E ainda sinto que escondo de mim mesma blocos da minha personalidade, embora faça um esforço gigantesco para trazê-los à tona. Porque pior do que fazer com que as pessoas descubram a confusão que sou, é não encarar a verdade e ser tomada pela hipocrisia".

sexta-feira, 20 de junho de 2008

O pé grande e a melancia

Lúcia era uma mulher gorda, com 36 anos de idade e quatro crianças (duas adotivas) para sustentar. Trabalhava oito horas por dia e dava plantão dois sábados por mês para, junto do marido, dar conta das despesas de casa. O marido, um peso morto daqueles que moram em frente à televisão e engatam centenas de latas de cerveja durante a semana, pouco se importava com as obrigações matrimoniais, e, quando acometido pelo espírito da boa vontade, deixava a desejar numa performance - perdoem o trocadilho - broxante.

Cansada, entediada e com a libido em coma, Lúcia partiu quase que involuntariamente numa jornada de sexo e descobertas iniciada num chat na internet, com um podólatra dez anos mais jovem, louco por gordinhas. Curiosa com as possibilidades de realização sexual invariavelmente ligadas ao recém conhecido Big Foot, Lúcia, conhecida no cyber espaço como Chupa Que é de Melancia - revelando uma audácia peculiar desconhecida até então - quis encontrar-se o quanto antes com o rapazinho que lhe prometia prazeres estratosféricos e mais.

Depois de duas semanas de negociações intensas, marcaram data, hora e local para aquela que seria, sem dúvida, a maior aventura de sua vida. Naquele mês, Melancia deixou de comprar o presente do filho mais velho - que faria nove anos - para investir em uma belíssima lingerie GG, que comprou de uma amiga sob pretexto de uma última tentativa de desafogar o casamento.

Chegado o dia, Lúcia não conseguia trabalhar, eufórica, levantando suspeitas dos que a observavam. Às 18 horas saía do trabalho e caminhava direto à estação de metrô, que a levaria até o centro num trajeto de pouco mais de cinco minutos. Chegando ao local combinado, passou a olhar os transeuntes buscando a figura que Big Foot havia descrito.

Lúcia tentou, mas não conseguiu segurar o queixo ao ver em sua frente, sorrindo com os belos dentes a mostra, um homem forte, loiro, 1,80 metro, 76 quilos, vestindo jeans e camisa verde-musgo. E transcendeu o êxtasi ao ouvir, quase sem acreditar:

- Acho que vai ser melhor do que eu esperava.

- Vai? - balbuciou.

Partiram dali para um aconchegante flat com cerca de 50 metros quadrados, cama resistente e vídeos estimulantes. Subiram as escadas já se agarrando, numa urgência lasciva que os levou a percorrer os móveis do espaço, o sofá de dois lugares, o balcão da cozinha americana. Lúcia não podia acreditar que tivera coragem para tanto, e sobretudo, que tivesse tido sorte em encontrar alguém que parecia admirar o que sempre acreditou ser seu maior defeito. Pé Grande passeava por aquele corpo imenso, dando atenção especial aos pés inflados de Lúcia, que num ímpeto de tesão já nem se reconhecia mais nela mesma, acordando dentro de si uma mulher capaz de sentir e sobretudo (e o que parecia ainda mais importante) dar prazer.

Despediram-se já marcando encontro para o dia seguinte. Na sexta, sentindo-se pela primeira vez em alguns anos importante para si própria, Lúcia teve um excelente dia de trabalho, realizando suas tarefas com agilidade e eficiência surpreendentes.

Após o expediente, do lado de fora do prédio, Murilo - o Pé Grande - já a aguardava com excitação. Lúcia entrou no carro rapidamente e juntos partiram para o motel mais próximo. Semanas seguiram-se nessa rotina inebriante. Murilo e Lúcia, depois de algumas noites sem informações complementares, passaram a interessar-se pelas histórias um do outro. Lúcia falou sobre os filhos, sobre quanto os amava, mostrou fotos que fizeram Murilo encantar-se pelas crianças - que ela prometeu apresentar (um dia). Murilo falou sobre trabalho, sobre ex-namoradas e infância. Passaram a nutrir uma cumplicidade que ia além da cama e em alguns meses não podiam ficar sem se falar por sequer um dia, sob risco de sufocamento pela realidade.

Protagonizaram momentos inusitados em várias ocasiões. As pessoas não conseguiam conceber a harmonia apresentada pelo casal diante da disparidade de seus perfis, mas este fato passou a não os incomodar à medida em que reconheciam-se como personagens de uma história incomum e - mais do que embaraçosa - desconcertante.

Passado mais um tempo, junto com todas as mudanças trazidas com a chegada de Murilo - novo cargo, mais auto-estima e realização - Lúcia decidiu que chegara o momento de mandar seu marido zarpar para o bar mais próximo e passar a visitar os filhos somente nos fins de semana. Assumiu então o romance com Murilo, permitindo que a fantasia desse lugar à realidade sem que se perdesse, no entanto, a magia de um encontro como aquele.

Os dois passaram a almoçar juntos, ir juntos ao shopping - primeiro a sós, como um casal de namorados em início de relacionamento, depois acrescentaram as crianças ao passeio - e assim, quase sem perceber, criaram um vínculo inesperado de cumplicidade e afeto.

E foi assim que Lúcia percebeu que a vida tem maneiras muito peculiares de nos fazer felizes, quase como se zombasse de nós, mostrando-nos a cada dia que das maneiras mais incrivelmente absurdas, podemos sim, mudar o rumo de nossos destinos.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

The cookbook

Na cozinha, os dois discutiam:
- Você pode largar essa panela e olhar pra mim, enquanto falo com você?
- Eu estou comendo.
- Então tudo bem, sem conversa, não é?
- Por que você tem sempre que ser tão decepcionante?
- É um dos meus charmes, ora!
- Era, no início do nosso relacionamento, quando tudo parecia bonitinho.
- Parecia? E o que é que mudou?
- Você, eu. O mundo.
- Não, não começa.
- Foi você quem começou. Eu argumentei, apenas.
Ela continuou com a cara na panela, entretida com uma deliciosa porção de brigadeiro. Ele prosseguiu:
- Você está insatisfeita, não é?
- Neste instante, não. O chocolate libera uma substância que age diretamente na área do nosso cérebro responsável por promover sensações de satisfação e contentamento.
- Eu estou falando sério! Você pode tentar fazer a mesma coisa?
- Você sabe que sim.
- Então por favor! Estou tentando discutir algo relevante com você.
- Tudo bem, me desculpe.
Os dois manteram um breve silêncio.
- Você não vai falar?
- Falar o quê?
- Cristo! Você está quase me estapeando, coisas sérias estão acontecendo. Me diga, o que é?
Resignado, ele disse, enfim:
- É o brigadeiro.
- O quê?
- O brigadeiro. Você errou na consistência de novo, está vendo? Não está com consistência de brigadeiro, mas de leite condensado e chocolate. Precisa de consistência, entendeu? Só da certo quando a mistura atinge aquele ponto, na fervura, em que a combinação dos dois elementos desgruda do fundo do recipiente.
Ela o olhava, encantada com a seriedade com que ele tratava do assunto:
- Eu sou apaixonada por você. Ainda.
- Eu também, mas pôxa amor: pelo menos o brigadeiro.

terça-feira, 17 de junho de 2008

As confissões da Srta. Nina Bar

Descubro, com surpresa, que a Senhorita Nina Bar deixou diversos manuscritos com casos de sua conturbada vida. Não posso esclarecer com exatidão, como estes manuscritos chegaram até mim, mas não pude conter a curiosidade, aguçada pelas tristes circunstâncias de sua morte. O fato, é que sensibilizado pelas histórias da Srta. Bar, resolvo compartilhá-las, seguindo o pretexto de que a vida de cada um de nós merece um livro. Ou, neste caso, um post num blog com poucos visitantes.

A primeira vez que a Srta. Bar deparou-se com o objeto de sua paixão (um colega de classe), era ainda uma adolescente, imatura, desconhecendo o motivo de ter sido jogada no redemoinho da vida. Encantara-se naquele instante e tão desesperadamente, que deixou de temer a morte, desde que a morte chegasse para romper com a eternidade – quando assim Deus decidisse – ao lado daquele homem. E foi assim, escancarada, que Nina se jogou na vida sem muitos temores. Inconseqüente, querendo viver a eternidade em um minuto.

“Estou sofrendo de um fanatismo quase cruel”. A leitura das primeiras páginas revela uma paixão de intensidade desconcertante. Um sentimento não correspondido - tristemente – que desconheceu comedimentos. Nina queria ser vista, tocada, compreendida, mas aos poucos sucumbiu ao desespero dos desapontamentos freqüentes. Chateava-se consigo própria, com sua paixão, com Deus, com os ponteiros do relógio: morosos, pesados, arrastando-se em voltas lentas e intermináveis. Morria nos fins de semana, quando não o via; odiava feriados, quando ausentava-se da escola. Dessa maneira, sem esforço, conseguiu contatos e uma aproximação densa, que desencadeou um leque de mal-entendidos e decepções.

“Andei pelas ruas como uma louca. Transtornada, quis encontrá-lo, e nessa noite revelei minha paixão. Ele não soube o que dizer. Em outras palavras, admitiu não estar preparado para entregar-se a um sentimento de tamanha complexidade. Tentou ser doce, respeitou-me, embora tenha me perguntado se havia deixado de ir à igreja. Respondi que em nenhuma igreja estive mais próxima de Deus do que quando estou em meu quarto. Acreditei, inocentemente, que teria chances a partir daquela data, mas desde então encarei um inferno sem precedentes: O preço pago por dizer a verdade”.

Aos poucos, a Srta. Bar deixa escapar que acreditou poder causar mudanças profundas na vida daquele homem. Torná-lo pleno, apresentar-lhe a força sobrenatural de um sentimento que não cabia em uma só pessoa, mas precisava ser repartido, compartilhado com cumplicidade devotada, com a obrigação egoísta de lançar toda a realização do mundo a duas almas sedentas por afeto.

domingo, 15 de junho de 2008

Cores (ou não)

A leveza, ou a densidade dos traços que permeiam nossas inquietações.
The girl loves the sea;

Lonely;

Despair.
Ilustrações: criações no paint, de Felipe Lima.

Clarice intensa

“Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade. Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou madura bastante ainda. Ou nunca serei.”
O caos e a beleza de Clarice Lispector.

sábado, 14 de junho de 2008

Drummond

"A cada dia que vivo, mais me convenço de que o desperdício da vida está no amor que não damos, nas forças que não usamos, na prudência egoísta, que nada arrisca e que, esquivando-nos do sofrimento, perdemos também a felicidade".
Carlos Drummond de Andrade, poeta.

The beginning



Ilustração: Traços, felipe lima
Começo com a minha distração mais recente - e prazerosa. Sejamos todos bem-vindos.
Sem esquecer que tudo começou em uma outra casa.