segunda-feira, 23 de junho de 2008

A recusa do meio-termo

Perdido em minha cama desarrumada, em meio a contas, crediários, revistas, cobertores e um exemplar de Fernando Sabino que tento terminar há mais de um ano, sinto uma angústia sutil que carrega-me para o buraco em mim. Penso que não devo me sentir infeliz e por enquanto, recuso-me a achar um meio-termo; aquele ponto da vida em que não nos sentimos nem felizes nem infelizes. A própria percepção do estado medíocre me entristece e assim prossigo caminhando sempre entre uma e outra coisa. Ou alegre ou triste. Ou bobo, como tenho me percebido com frequência.

Surpreendo-me com o medo da felicidade, de modo que quando rio muito penso sempre que algo muito ruim brevemente irá acontecer, numa conspiração da própria vida para o equilíbrio de nossos sentimentos. Além do medo, me deixa triste o fato de nunca conseguir responder com clareza quando perguntam-me se estou feliz. Ou estou feliz ou estou triste, não consigo encontrar um adjetivo constante para definir meu estado. Sou feliz e sou triste, passarei a responder.

Existem pessoas que são felizes, apesar de tudo e existem as que são infelizes, apesar de tudo. E existem aquelas que como Danuza Leão e Elie Wiesel, vivem num estado permanente de meio-termo: nada do que aconteça a elas poderão fazê-las nem muito felizes, nem fuito infelizes, como a própria Danuza expõe.

E ocorre-me agora, o quanto a tristeza faz com que me sinta vivo. Talvez porque quando nos entristecemos pisamos fundo no chão, lançando-nos à realidade da vida abruptamente. Ficamos mais corajosos. Ou fico, não sei se posso generalizar.

Defendo a tristeza porque creio em sua importância, não devemos relutar. Contudo, amo a felicidade, de modo que a busco apressadamente. Nascemos para buscá-la, mas devemos respeitar a tristeza de modo voluntário. Compreendê-la. A tristeza deve existir, mas peço que vá: que venha e que vá enquanto sou jovem e rejeito a permanência da tristeza, do meio-termo, da felicidade. A permanência da felicidade pode nem ser saudável.

Volto à última crônica do livro de Fernando: ele também vive o meio-termo, "nem alegre e nem triste", diz. Talvez o tempo realmente faça com que chegue uma fase em nossas vidas em que vivendo de tudo, nada nos desperte do meio-termo. Onde não esperaremos muito, onde os sonhos não existam. Só a realidade contundente, que talvez até torne-se bela, como a tristeza ou a felicidade.

Termino o livro e vejo semelhanças demais entre esta e a última crônica de Sabino. Sinto-me compreendido. Um belíssimo livro.

2 comentários:

Tina Lopes disse...

Tristeza não tem fim; felicidade, sim. Já reparou que as pessoas que se dizem muito felizes o tempo todo são meio bobocas? Pra mim, viver é triste se você tem um pouco de sentimento pelo mundo (hoje estou cheia de citações). Um pouco de existencialismo nunca é demais. A vida é assim, gafanhoto. Bjk

Anônimo disse...

Acho nostálgico acreditar que a vida tem mesmo alicerces baseados em tristezas. Que somos de natureza triste, até porque pensar assim me faz aceitar as coisas (à mim, inclusive...)com mais naturalidade e acima de tudo, entender e tratar a felicidade como bônus; como premiações mesmo. No mais Felipe, o "meio termo" é exatamente a cadeira perfeita pra que esperamos o trânsito entre uma e outra. Um beijo grande e parabéns pelo espaço. Seu texto encanta e eu adoro Sabino!