Na cozinha, os dois discutiam:
- Você pode largar essa panela e olhar pra mim, enquanto falo com você?
- Eu estou comendo.
- Então tudo bem, sem conversa, não é?
- Por que você tem sempre que ser tão decepcionante?
- É um dos meus charmes, ora!
- Era, no início do nosso relacionamento, quando tudo parecia bonitinho.
- Parecia? E o que é que mudou?
- Você, eu. O mundo.
- Não, não começa.
- Foi você quem começou. Eu argumentei, apenas.
Ela continuou com a cara na panela, entretida com uma deliciosa porção de brigadeiro. Ele prosseguiu:
- Você está insatisfeita, não é?
- Neste instante, não. O chocolate libera uma substância que age diretamente na área do nosso cérebro responsável por promover sensações de satisfação e contentamento.
- Eu estou falando sério! Você pode tentar fazer a mesma coisa?
- Você sabe que sim.
- Então por favor! Estou tentando discutir algo relevante com você.
- Tudo bem, me desculpe.
Os dois manteram um breve silêncio.
- Você não vai falar?
- Falar o quê?
- Cristo! Você está quase me estapeando, coisas sérias estão acontecendo. Me diga, o que é?
Resignado, ele disse, enfim:
- É o brigadeiro.
- O quê?
- O brigadeiro. Você errou na consistência de novo, está vendo? Não está com consistência de brigadeiro, mas de leite condensado e chocolate. Precisa de consistência, entendeu? Só da certo quando a mistura atinge aquele ponto, na fervura, em que a combinação dos dois elementos desgruda do fundo do recipiente.
Ela o olhava, encantada com a seriedade com que ele tratava do assunto:
- Eu sou apaixonada por você. Ainda.
- Eu também, mas pôxa amor: pelo menos o brigadeiro.
quinta-feira, 19 de junho de 2008
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