sexta-feira, 27 de junho de 2008

Quando somos eternamente responsáveis pelo que cativamos


Só havia o desespero:
- Alô?
- Não desliga.
- O que você quer?
- Uma chance.
- Mais uma?
- Por que nós não conseguimos conversar?
- Porque já dissemos tudo o que precisávamos.
- Não é verdade.
- Claro. Há coisas que não podem ser ditas, não é?
- Você está sendo imatura.
- E você, covarde.
- Você não quer me deixar.
- Já deixei.
- Mas você não quer.
- Que diferença faz?
- Você é teimosa, caramba!
- Eu? Quem é o rei da resistência? Quanto tempo eu tive de esperar até que você decidisse parar de lutar contra o que sentia? Fui eu quem chorei por anos, quem quis cometer suicídio, quem saiu por aí transando com qualquer um que cruzasse meu caminho, em busca do que você não podia, não queria me dar.
- Ah, por favor, não começa!
- Foi você quem começou.
- Não dá pra conversar com você.
- Você não devia ter ligado.
- Não devia mesmo.
- Definitivamente, não.
- É que eu te amo.
- De que adianta?
- Não basta?
- Não, só amor não basta.
- O que você quer mais de mim? Pelo amor de Deus, me diz, o quê? Eu deixei de lado meu orgulho por você! Eu fiz escolhas perigosas por você. Não basta? Eu sou um homem inseguro agora, dependente de alguém que me perseguiu, que me desestabilizou, que virou o meu chão!
- Por que você está gritando?
- Porque eu não me conformo em amar alguém que se esforça tanto pra ser infeliz, que se vitimiza a todo instante, que precisa culpar todo mundo à sua volta pelas suas neuroses tão inconvenientes e batidas! Você me faz mal!
- É por isso que estou deixando você.
- Porque eu te digo a verdade?
- Porque eu te faço mal.
- E daí?
- Eu não suporto machucar mais alguém.
- O estrago já está feito, continua!
- Não pode ser assim.
- Você me ama?
- Sim.
- Ainda é apaixonada por mim?
- Sim.
- Você sente tesão por mim?
- Sim, sim! Quantas vezes você quer ouvir sim?
- E quando você ama, você deixa?
- Sim.
- Deixa?
- Se você ama de verdade, você deixa.
- Não deixa, não. Eu vou ficar pior sem você.
- Você vai superar.
- Como você sabe? Eu posso não resistir e me atirar na frente de um ônibus. Ou ir para o centro e pular de um prédio. Parar de comer. Fica. Eu vou ficar pior sem você, fica.
- Eu te canso.
- Fica.
- Eu te exponho.
- Fica.
- Eu confundo você.
- Por favor, fica.
- Eu não te compreendo, não te divirto.
- Fica.
- Eu não consigo fazer você feliz.
- Eu não me importo, eu não preciso. Minha história não existe sem você. Fica.
Ilustração: Despair, felipe lima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Li antes, Felipe...E amei cada palavra deste diálogo. Mergulhei dentro dele, vestindo cada uma das emoções que senti... É lindo.