terça-feira, 17 de junho de 2008

As confissões da Srta. Nina Bar

Descubro, com surpresa, que a Senhorita Nina Bar deixou diversos manuscritos com casos de sua conturbada vida. Não posso esclarecer com exatidão, como estes manuscritos chegaram até mim, mas não pude conter a curiosidade, aguçada pelas tristes circunstâncias de sua morte. O fato, é que sensibilizado pelas histórias da Srta. Bar, resolvo compartilhá-las, seguindo o pretexto de que a vida de cada um de nós merece um livro. Ou, neste caso, um post num blog com poucos visitantes.

A primeira vez que a Srta. Bar deparou-se com o objeto de sua paixão (um colega de classe), era ainda uma adolescente, imatura, desconhecendo o motivo de ter sido jogada no redemoinho da vida. Encantara-se naquele instante e tão desesperadamente, que deixou de temer a morte, desde que a morte chegasse para romper com a eternidade – quando assim Deus decidisse – ao lado daquele homem. E foi assim, escancarada, que Nina se jogou na vida sem muitos temores. Inconseqüente, querendo viver a eternidade em um minuto.

“Estou sofrendo de um fanatismo quase cruel”. A leitura das primeiras páginas revela uma paixão de intensidade desconcertante. Um sentimento não correspondido - tristemente – que desconheceu comedimentos. Nina queria ser vista, tocada, compreendida, mas aos poucos sucumbiu ao desespero dos desapontamentos freqüentes. Chateava-se consigo própria, com sua paixão, com Deus, com os ponteiros do relógio: morosos, pesados, arrastando-se em voltas lentas e intermináveis. Morria nos fins de semana, quando não o via; odiava feriados, quando ausentava-se da escola. Dessa maneira, sem esforço, conseguiu contatos e uma aproximação densa, que desencadeou um leque de mal-entendidos e decepções.

“Andei pelas ruas como uma louca. Transtornada, quis encontrá-lo, e nessa noite revelei minha paixão. Ele não soube o que dizer. Em outras palavras, admitiu não estar preparado para entregar-se a um sentimento de tamanha complexidade. Tentou ser doce, respeitou-me, embora tenha me perguntado se havia deixado de ir à igreja. Respondi que em nenhuma igreja estive mais próxima de Deus do que quando estou em meu quarto. Acreditei, inocentemente, que teria chances a partir daquela data, mas desde então encarei um inferno sem precedentes: O preço pago por dizer a verdade”.

Aos poucos, a Srta. Bar deixa escapar que acreditou poder causar mudanças profundas na vida daquele homem. Torná-lo pleno, apresentar-lhe a força sobrenatural de um sentimento que não cabia em uma só pessoa, mas precisava ser repartido, compartilhado com cumplicidade devotada, com a obrigação egoísta de lançar toda a realização do mundo a duas almas sedentas por afeto.

3 comentários:

Anônimo disse...

Eu sei o que a Nina sentiu quando falou a verdade.

Anônimo disse...

Essa história tocou na alma hein...

Anônimo disse...

Infeliz e definitivamente, Cada um de nós só é capaz de amar da maneira que sabe e, apenas até onde pode. Eu a entendo Srta. Nina... E sinto tua dor, na carne. Beijo, poeta!