terça-feira, 12 de agosto de 2008

O apocalipse

Furacões, tique-taques, sons, câmeras girando em 360º.
Ruas sem nomes, amores correndo de mãos dadas.
Mergulhos na água, nús, sob o sol.
Areia e promessas que nunca foram feitas.
Entulhos, velas.
Velocidade, asfalto, pés, vôo num céu claro. Branco: nas roupas e nos dentes. Cores, em todos os lugares.
Música, guitarras, órgãos, pianos, baixos, violões, baterias, flautas e vozes, todas as vozes juntas.
Almas esparramadas, saindo das bocas dos que cantam.
Infinito
Prédios, fontes espirrando água sem parar.
Homens cavalgando em nuvens, deitados em cavalos de pano.
Sorrisos sem tamanho, sorrisos enormes.
Pessoas rodopiando em meio aos carros, todos parados.
Crianças sobre capotas, cachorros flutuando, bumerangues.
Olhos se abrindo, ouvidos atentos, despertados.
Chinelos andando sozinhos pelas ruas.
Pãezinhos dançando sobre o balcão, roupas fugindo dos cabides.
Lágrimas, gritos.
Chuva subindo em direção ao céu.
Tsunamis e homens de prancha na mão.
Travesseiros espreguiçando-se, elefantes pulando corda, girafas de salto alto, marchando.
Melancias à disposição dos transeuntes, comidas em cada esquina.
Bicicletas exercitando-se sozinhas, máquinas fotográficas registrando o fim do mundo.
Alegrias (muitas) com a chegada de Deus e sua acolhida divina à nossa existência cheia de pecados outrora condenáveis e que não mais existiam.
Ninguém mais tinha problemas para dormir e à noite, Deus juntava-se a nós ao redor da fogueira e contava casos de outras épocas.
As crianças brincavam com leões e não tínhamos mais aversão a inseto algum.
E todos riam quando deitávamos no chão e o céu escuro se transformava em uma imensa tela, como as de cinema, e víamos as estrelas apresentarem espetáculos extraordinários, usufruindo de todas as manifestações da estética e da imaginação.
Os galos jogavam cartas e ninguém mais morria.
Os sonhos eram possíveis e falava-se apenas um idioma. As pessoas todas entendiam o que era dito.
As baleias nadavam no ar e as vacas faziam turismo nos mares com galões de oxigênio.
Não existiam os pesadelos (nem os despertadores). Nem impostos. Nem dinheiro.
Os animais (todos, com exceção das estrelas-do-mar, que eram mudas) falavam e tinham sempre bons conselhos a dar.
Éramos felizes, porque a tristeza tinha sido expulsa de nossos corações, que agora não se pareciam com punhos fechados mas com os desenhos típicos que aprendemos quando crianças.
E antes de se deitar Deus dizia-nos, sempre: "tenham uma boa noite, meus filhos". Víamos a grandeza de seus passos, gestos e palavras poderosas indo dormir, enquanto vagalumes o seguiam até a beirada da cama, onde estacionavam. E sempre havia o dia seguinte.

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